quarta-feira, 12 de agosto de 2009


Com a boca ressaquiada acendo um cigarro por indiferença. Sobre a escrivaninha estão um cinzeiro, um colírio, folhas amareladas com poesias esquecidas e um crachá. A noite fria de agosto traz lembranças de algo que não sei de onde vem, nem pra onde vai, fica bem aqui, como se esse algo bem aqui não soubesse também pra onde ir. Talvez sejam lembranças de um cadáver recente. Sentimentos insólitos perturbam minha alma. Num livro que descansava na última prateleira da encanecida biblioteca descobri que o amor foi estuprado. O sentimento agora hesita com olhos arregalados à sombra da masturbação. A loucura saiu de moda, virou tendência. De volta aos bares, entre amigos que não me conhecem, minha alma indiferente, acende outro cigarro, assustada com as novas epidemias sociais...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

o espírito do poeta

ele zombava de sua própria morte
com uma garrafa empoeirada de um vinho barato
ao som do blues declamava
uma improvável e intocável poesia
diante da imortalidade de sua alma
falava sobre si
sobre seu sexo e seus distúrbios psicológicos
sobre seus passos que não eram passos
eram surtos aprisionados num corpo mortal
que lhe fazia ver somente o que não fosse crime
agora livre, sacudiu o pó da alma
favorável a tudo que lhe condene
clamava pela loucura de sentimentos voláteis
um espírito embriagado de poesias plurais
a desprezar os pobres corpos mortais...