Sangue!
Chatterton, suicidou
Kurt Cobain, suicidou
Vargas, suicidou
Nietzsche, enlouqueceu
E eu!
Não vou nada bem
Não vou nada bem...
Chatterton, suicidou
Cléopatra, suicidou
Isocrates, suicidou
Goya, enlouqueceu
E eu!
Não vou nada bem...
Chatterton, suicidou
Marc-Antoine, suicidou
Van Gogh, suicidou
Schumann, enlouqueceu
E eu!
Puta que pariu!
Não vou nada bem...
(Chatterton - Seu Jorge)

"Chatterton suicidou. Kurt Cobain suicidou. Vince Van Gogh suicidou. Nietzsche enloqueceu. E eu, puta que pariu, nao vou nada bem". Canta Seu Jorge com sua voz grave enquanto repete um quadrado no baixo.
Kurt Cobain, Van Gogh e Nietzsche são conhecidos, mas quem é Chatterton? Você sabe?
Thomas Chatterton é um dos cadáveres mais famosos da história, nasceu na classe equivocada em 1752 e nunca conseguiu sair dela, viveu somente dezessete anos e comeu merda desde o momento que chegou até o que abandonou este mundo. Sua mãe cuidava de uma igreja em Bristol, seu pai morreu antes que ele nascesse.
Thomas foi mandado à escola para pobres de Bristol, onde se formou com escasso futuro aos catorze anos e começou a trabalhar para um copista da cidade, que não lhe pagava nem uma tostão: só recebia alojamento, comida e roupa velha, como todos os outros criados.
Nessas ásperas condições, o jovem, criativo qu era, inventou um monge medieval chamado Thomas Rowley, a quem adjudicou uma série de poemas, redigidos por ele mesmo, em estilo e caligrafia impecavelmente góticos, sobre uns pergaminhos que seu avô tinha encontrado acidentalmente nos sótãos da igreja que cuidava.
Graças a eles, o impetuoso Chatterton pôde deixar Bristol e chegar a Londres disposto a conquistar a cidade com sua pluma. Seis meses depois sua caseira encontrou o rapaz morto no sótão que alugava. O morto ainda não havia esfriado quando começaram a tecer a lenda.
Enquanto a população masculina reunida na taberna atribuía o suicídio à evidente insanidade do morto (coisa que permitia explicar todas as excentricidades de Chatterton, desde suas ameaças de se tornar maometano até suas falsificações medievais, seu bizarro gosto para se vestir e inclusive sua condição de vegetariano), as garotas do bordel asseguravam que o rapaz tinha morrido de fome porque o padeiro não teria aceito vender lhe fiado.
A madame afirmou que tinha ouvido ele soluçar durante toda a noite, enquanto seus passos podiam ser ouvidos indo de um lado ao outro do quarto. Uma vizinha que conseguiu acompanhar a polícia que forçou a porta disse que o cadáver jazia caído próximo a cama, com expressão angelical e rodeado de papéis rasgados em confete. E o boticário confessou compungido que à tarde anterior tinha vendido um pouco de arsênico e láudano ao rapaz.
Chatterton foi o primeiro caso de um poeta no qual importam menos seus versos que sua vida, e sua morte. Chatterton era o padrão pelo jovens em toda Europa mediam seu desespero. Juventude, poesia e alienação tornaram-se sinônimos e e começou uma verdadeira epidemia de suicídios...

